domingo, 27 de setembro de 2009

Por um pouco de cor:

"As paredes estão brancas
Alguém deseja pintá-las?

Eu suplico:
Salve-as com alguma cor!

Pode até ser em tons escuros
Com um pouco de maldade

Essa servidão ao branco é o que as aprisiona
Que tristeza, quanto vazio...

Do meu gosto seriam em tons vermelhos
Como um rastro de paixão

Depois desdobrariam para o verde
Da tranqüilidade
Da liberdade

Eu suplico:
Alguém jogue qualquer tipo de tinta nas paredes
Que acabe com essa monotonia do branco!

Se as paredes brancas falassem
Com certeza gritariam como eu grito por elas:

Um pouco de cor!
Um pouco de amor!"


.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cidades

"... o povo está escondido... mas a pobreza se insinua pelas frestas, invade terrenos, constrói favelas. As cidades modernas são controláveis como uma penela de pressão..." (MIRANDA, 1994).

Na tentativa de pensar sobre os espaços públicos das nossa cidades, tem que se levar em conta o processo de separação entre o público x privado. O lugar seguro dos nossos lares e o perigo constante do que podemos encontrar pelas ruas, nos chamados espaços urbanos.

Em São Leopoldo, uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, mal se sabe onde está toda essa gente. Mas elas estão por aí... é só nos distanciarmos um ou dois quilômetros do centro da cidade que vamos encontrar a tão amedrontadora periferia!

Enquanto isso, o centro da cidade se fecha. Os condomínios aumentam em número e em atrativos internos. Verdadeiras cidades dentro da cidade.
Mas ainda precisa-se da periferia: para limpar os jardins, produzir os bens de consumo, vender as drogas e, claro, ser a personificação dos problemas (da saúde, da escola, da segurança).

Não há espaço público seguro (?) é o que eu escuto falar.

Mas e daí? Ninguém precisa se preocupar com o espaço público tendo seu carro, condomínio, shoppings, teatros, restaurantes. A preocupação só bate à porta para reclamar do menino que pede dinheiro no sinal ou quando o assalto acontece... daí os esquecidos são lembrados.
Sim, tem que haver um culpado! Tem que se controlar aquilo que saiu fora do controle! Mais polícia! Mais grades em torno de nossas casas!

E a panela de pressão continua a cozinhar alguma coisa...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Àquele que se (es) vai


Que falta já posso sentir
Da tua pele
Pêlos
Tua boca
Mãos
Pernas
E tudo mais

Por que tinhas que partir?
Acho graça no meu drama

Chego a ter vontade de rir!

Como pode alguém sentir a falta de um pedaço?
Um corpo?

Já te vais
Vais te juntar à outros cheiros e peles

Ah, sim!
Vais trabalhar!


É que às vezes me esqueço que és além de um corpo.

Que tua saúde transborda em outros lugares
Tua vitalidade é tua forma de ser.



Então seja!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Eu mesma:

Às vezes eu me canso de mim mesma. Queria até mesmo ter outra cor de pele, outro tom de voz.
Quem sabe me dizer como seria ser mais baixa? Ou mais alta?
Talvez até arriscasse ter uns quilos a mais. Só pra não enjoar tanto de mim mesma.

Teria um andar diferente, um jeito de me comunicar inédito! Provavelmente sem sorrisos, talvez com mais leveza.

Se eu pudesse ser o que eu não sou, nem sei o que seria. Gostaria de ser tantas coisas.

Acho que começaria sendo uma bailarina.
Ou talvez uma mãe de família, só para experimentar o cheiro que fica da mistura da comida feita por mim, junto com trabalhos domésticos, crianças e marido.

Queria ser, quem sabe, até um homem. Sem seios, sem cabelos longos, sem menstruação, sem a desculpa da TPM.


Depois seria uma velha, pra ver como que a gente fica depois que toda a juventude se esvai. Quando sobram rugas e sabedoria.


É... estou cansada de ser eu mesma.

Acho que no meu desespero de ser outra, toparia até ser uma política, pra poder sentir o gosto da mentira e da covardia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Aos Cidadãos do Mundo:

Conversava eu com um novo amigo, e lá pelas tantas surge o assunto: “onde você costuma ir? Que lugares frequenta?”
Me dei conta que freqüento lugares extremamente diferentes, o que meu amigo denomina “cidadão do mundo”.

O cidadão do mundo tem como característica circular por diferentes lugares, se adaptando e aproveitando as coisas boas que cada espaço tem para oferecer.

Ah, como é bom ser cidadão do mundo!

A gente conhece tanta gente interessante, tantos pontos de vista. Começa a compreender por que algumas coisas fazem o maior sentido e são indispensáveis para uns enquanto que outros sequer sabem que isso existe. Chamo esses últimos de “cidadãos de guetos”, ensimesmados e, consequentemente, contam com menos alternativas para se sentirem acolhidos pertencentes à esse mundo.

Há tantos lugares pra conhecer, tantas formas de se divertir que não tem como gostar só de uma! Brindemos aos Cidadãos do Mundo e aos encontros alegres!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Suicídios na France Telecom

Hoje vim falar sobre um assunto muito sério. Um assunto que diz respeito à todos nós, de alguma maneira, seja como trabalhadores, seja como cidadãos responsáveis e críticos.
Há alguns dias atrás estourou a notícia da onda de suicídios numa empresa de telecomunicações da França. O último dos suicídios foi registrado na sexta-feira passada (11/09), quando uma mulher de 32 anos se jogou pela janela de seu escritório. Já foram 23 desde metade de 2008.
A France Telecom era uma empresa estatal até três anos atrás e hoje o Estado controla apenas 26,7% do capital.
Ocorreram muitas trocas de funções, transferências para outras cidades e (obviamente) um grande enxugamento de funcionários. Mais de 20 mil pessoas foram demitidas!
Sabe-se que o processo de reestruturação produtiva favorece o isolamento e a insegurança em relação ao futuro, dificulta a criação de defesas coletivas e de proteção, predominando o uso de defesas individuais de adaptação, onda “cada um se vira como pode”. Assim, o sofrimento vivenciado pelo trabalhador, que certamente diz respeito à questões sócio-econômicas bem mais amplas, passa a ser individualizado.
Obviamente que nem todas as pessoas vão sentir o impacto das pressões por metas e das demissões da mesma forma, mas agora negar que isso existe é um absurdo!
Precisamos repensar em como estamos trabalhando, onde queremos chegar com isso e porque nos calamos diante daquilo que está escancarado...
A France Telecom prometeu contratar 100 funcionários de recursos humanos para identificar empregados com problemas. Será essa a solução? Não é hora de repensarmos essas questões e criticar quando uma empresa coloca no seu site:

“In the current economic environment, our practice of corporate social responsibility is more than ever at the core of our business strategy.Our priorities can be summarized in three words: include, preserve, care.”

Afirmando que tem uma prática de responsabilidade social como núcleo da estratégia da empresa. “Inclua, preserve e importe-se”, enquanto seus “colaboradores” se matam... que ironia...

Falta de sorte?

Eu duvido.

Aqui temos o adoecimento, representado pelo suicídio, mas que pode se desenvolver de muitas outras formas. Formas que jamais chegarão até a mídia... mas que estão por aí... enriquecendo a indústria farmacêutica que bate recordes de vendas a cada ano de anti-depressivos, anti-ansiolíticos...

domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre um Homem

Chovia ininterruptamente em Porto Alegre. Entro no trem e ao meu lado senta um homem. Mas não era qualquer homem. Ainda estou desconcertada, pois um homem daqueles não havia ainda me chamado a atenção.
Descrevo: ele estava vestido em trajes tipicamente gaúchos. Usava uma boina e um lenço vermelho amarrado no pescoço. Difícil descrever o que eu senti durante todo o caminho até São Leopoldo. Era uma curiosidade, uma vontade de tocar aquele homem. Sentou ao meu lado. De perfil era especialmente bonito.
Tinha a barba espessa, podia escutála quando ele coçava o rosto. Seu nariz era razoavelmente bem feito, mas o que me encantou foram os cílios: longos... e as pintinhas que ele tinha por todo o rosto. Pude reparar em uma que ficava na entrada da orelha. Aproveitei para observar bem, pois assim que o metrô começou a andar ele fechou os olhos. Acho que logo adormeceu, então eu pude observar cada detalhe.
No primeiro momento fiquei com medo de que ele acordasse e notasse que eu o observava. Imaginei então se ele estaria de botas e bombacha, então pus o corpo um pouco pra frente para observar. Sim ele estava. Também carregava uma mochila no colo, que não combinava com a roupa. Queria saber o que havia dentro dela. O que estaria carregando aquele homem?
Tentei sentir que cheiro que ele tinha, me aproximei um pouco mais. Meu coração batia. Estava descobrindo aquele homem sem pedir sua permissão. Não demorou para que eu me perguntasse: Estaria ele mesmo dormindo? Desejei que ele acordasse, estava decidida a perguntar seu nome, saber de onde ele vem. Queria saber por que entrou naquele vagão? Para me desconcertar? Já estava irritada com aquela situação.
Notei que a mulher que estava sentada na frente já havia percebido tudo o que eu estava fazendo. Mas eu precisava encostar nele. Coloquei meu corpo mais para o lado e o casaco dele encostou em mim, mas era pouco, eu queria ficar mais perto. Agora tinha certeza de que ele dormia, pois sua cabeça eventualmente pendia pro lado. Estava torcendo que ela encostasse no meu ombro. ..
Já estávamos em Esteio e eu não conseguia olhar para outra coisa, estava hipnotizada. Pensei em acordá-lo e avisar que em pouco tempo estaríamos em São Leopoldo. Começaria uma conversa e o convidaria para tomar um café. O plano era perfeito.
Eis que subtamente ele abre os olhos, justo quando eu observava seus lábios!
Ele percebeu. Estava perdida.
Ele me olha e pergunta em que estação estávamos. Quase desfaleci, me trapalhei para dar a resposta. Ele agradeceu com um sorriso e desceu na próxima estação.

Ainda bem que eu não o conheci mais, porque à noite pude sonhar com ele.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Boba e o Moço Assaltador

Inspirada pela leitura do texto "Das Vantagens de ser Bobo", da Clarice Lispector, resolvi escrever sobre isso:
Ano passado, enquanto eu caminhava bobamente, numa tarde de lindo Sol, com meu mp3 no ouvido e a bolsa pendurada no braço, há duas quadras da minha casa eu fui assaltada.
O assaltante passou de bicicleta, bem rente à mim e quando foi puxar minha bolsa se atrapalhou e quase caiu da bicicleta. A boba, que nunca tinha sido assaltada antes, ficou sem reação e quase pediu desculpas por ter atrapalhado o moço assaltador.
O máximo que a boba fez, foi gritar um palavrão enquanto o moço assaltador ia tranquilamente com a sua (não sei se era bem sua) bicicleta e a bolsa pendurada no ombro.
Os vizinhos se alvorossaram, houve até perseguição para pegar o moço assaltador, mas como de bobo ele não tem nada, conseguiu escapar. Óbviamente.
Naquela semana, como eu fui acusada! Nossa! Como me chamaram de boba, imprudente, desligada, desprevinida, boba denovo e por aí vai...
Como que eu não saí correndo? Como eu não gritei ou não dei um tapa no moço assaltador que tinha quase a metade do meu peso?
Enfim, o fato é que a boba, continua a caminhar tranquilamente pelas ruas. Não teve nenhum tipo de trauma. Continua admirando o Sol e escutando seu mp3 (essa parte é mentira, pois ainda não comprei um novo, mas quem ficar com pena da moça boba pode dar um pra ela). Mas saiba que ela corre o risco de ser novamente assaltada por outro moço assaltador!

Pois é muito boba...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Ao meu filho

Sim meu filho, sei que ainda nem existes, mas eu preciso te contar! Sim, eu preciso te alertar sobre as coisas que vais encontrar no mundo. Já te aviso que nem sempre são coisas bonitas. Aqui no Brasil por exemplo, país onde vais viver, tem muita gente que não tem uma casa pra morar, como tu vais ter quando nascer. Tem gente que come o resto da comida que tu vais jogar no lixo. Tem também gente que tu vais eleger para te defender e lutar pela tua qualidade de vida, mas ele vai desviar o dinheiro que vem do imposto que tu vais pagar e comprar uma linda casa, e um lindo barco, e lindas jóias para sua amante (o que é amante? ah, depois eu te explico, quando tu crescer). Aqui a gente também tem praças e parques, mas tu vais ver como eles são poucos e como muitas vezes eles estão cercados de grades. Vais ver que temos grandes empresas, que fabricam grandes produtos, e que as pessoas que lá trabalham nem sempre podem comprá-los. Vais ver que temos um Rio bem grande que passa pela nossa cidade, um Rio cheio de lixo, lixo este que tu também vais produzir. Vais conhecer o que é violência, o que é a droga, o que é sofrimento. Te assustei meu filho? Mas não te assuste! Pois também vais conhecer a alegria do carnaval e do futebol! E mesmo se tu não pegares gosto pelo samba e pela bola, eu não quero que tu desistas de nascer, pois esse mundo precisa de você. Sim, ele precisa. Tu vais encontrar muita gente que não desiste dessa vida. Vais entrar no metrô logo cedo e vais ver muitas pessoas indo trabalhar honestamente. Vais fazer amizades e encontrar pessoas pelas quais vais te apaixonar. Provavelmente vais te indignar toda vez que ver um homem pedindo esmolas. Daí nas próximas eleições vais votar com mais consciência, ou vais, no teu dia-a-dia, contribuir para que o teu mundo tenha menos violência, menos pobreza, menos lixo....

Homenagem aos Faladores:

"Hoje vim Falar daquela gente
Que já não sabe o que Fala

Mas insiste

E vem Falar de mim

Justo eu
Que mesmo na minha Falação
Só Falo o que sei
Do que não sei abro mão

Aquela gente tem a Fala feia
Feito Fala de Faladeira
Debruçada no portão

Eu quando Falo
Falo alto e em bom tom
Pois tudo o que penso e Falo
Não é um Falatório em vão."

Z. Müller

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Iniciando...

Começo hoje, numa quarta-feira cheia de chuva a escrever um blog! O fato é que semana passada encontrei, no meio daquelas faxinas que a gente faz no armário, um diário. Um diário de 10 anos atrás! Eu escrevi durante todos os dias do ano de 2.000 (ano que completei 15 anos). Achei o máximo! percebi algumas coisas que com certeza contribuiram para eu escolher a profissão que tenho hoje (sim, sou psicóloga, embora não seja sobre psicologia que eu quero falar nesse espaço, pelo menos vou tentar), também descobri como foi linda minha adolescencia, como foi uma adolescência MESMO! eu matava aula, me apaixonava, odiava uma professora, amava um professor, brigava com meus pais, praticava esporte, experimentava coisas... que delícia relembrar isso. Enquanto eu lia, podia sentir a dor de ser ignorada pelo meu grande amor, podia sentir o cheiro do brigadeiro que eu e as "gurias" fazíamos, podia sentir a raiva que eu sentia do meu pai quando ele queria mandar em mim, enfim!
Por isso começo meu blog falando sobre o ato de escrever, seja por diversão, por desabafo, por falta de ter com quem falar, enfim! Escrever é se comunicar, é se comprometer com alguma questão, pensar nela e fazer outras pessoas (os leitores) pensarem.
Dez anos depois, me colocarei novamente a escrever, talvez não tão leve e despida como na minha primeira experiência... desculpem, pois seria uma delícia!
Termino com uma frase inspiradora, de uma escritora admirável:
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."
Clarice Lispector