quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Cruz do Louco



“Achas que sou louco
Porque digo ser Jesus?
Então não é verdade
Que carrego uma cruz?

+

A cruz do preconceito
Fique atento!

+

Sou filho das ruas
Elas costumam me guiar
Quando ando apressado
Sem nada pra encontrar

+

Vais estranhar meu vestir
E meu cheiro
Pois não preciso de banho
Nem uso banheiro

+

Vais estranhar meu caminhar
Falando sozinho
Mas sou tão só quanto você
Nessa gaiola
Passarinho!

+

Protegido nesse prédio enorme
Estás você
Que se diz normal
E não vê

Que o doido aqui não serei eu
Quando

Esticado no caixão
De terno preto
Ao pensar na vida que levou
Não morrerá direito”


Z. Müller

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Infância Interrompida



“Sobrevivo em meio tuas garras
De Lobo-mal

És como um sopro
De bolhas de sabão

Levas minha inocência
De boneca

E se preciso do teu colo
De príncipe encantado

Me diz que já sou grande
Que és meu namorado”


Z. Müller

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mais um ano se vai e eu...

... eu estou bem. Só estou com vontade de ficar quieta.
Essa amigdalite surpresa trouxe muitas dores, febre, estragou meus planos para a virada do ano.... mas também trouxe coisas boas. E garanto: estou completamente tranqüila pra ficar em casa nesse reveillon.
A cidade vazia, todo mundo no superlotado litoral e eu, na tranqüilidade da minha casa e das minhas coisas.

Em 2009, finalmente, aprendi controlar melhor minha ansiedade, saber a hora de avançar, a hora de ficar calada. As coisas vieram, lentamente, como deveriam vir. Muitas pessoas passaram, somando mais do que um romance morno e sem sal.
Consegui ser muito verdadeira ao falar aquilo que eu queria pros meus amigos e relacionamentos. Finalizei algumas coisas, abri portas pra outras, decidi algumas metas, iniciei projetos...
Fiz muita festa, dei muita risada da vida, tomei muita cerveja. Li bons livros, assisti bons filmes. Aprendi com gente mais velha, com gente mais nova. Consolidei amizades e o amor por minha família.
Creio que foi um ano muito difícil, mas olhando agora, de fora dele, percebo o quanto ele me foi útil.
As coisas que eu sabia sobre paixão, sobre amor... estão se modificando, especialmente depois desse ano. Se eu endureci? Eu diria que não. Só estou me escutando mais. Não o que eu quero, mas o que eu sinto. Será a proximidade dos meus 25 anos?
Também percebi que chorei muito pouco esse ano. E é sobre isso que quero pensar nessa virada.

Me dá licença, mas nos vemos em 2010!

domingo, 20 de dezembro de 2009

o Eu

Ao amanhecer uma vertigem atravessa meu corpo. O que seria eu?

Errando demais, buscando caminhos que parecem quase labirintos. Me perco, me acho. Quando pareço quase certa do que sou, já não sou mais.
Daí sobram-me restos. Poeiras, lembranças. A imagem de mim mesma já não me é mais nítida.
Ao me deixar tocar, já me confundo com aquilo que me toca. Totalmente afetada por tudo que passa por meus olhos, ouvidos, boca, nariz, pele, não posso ser mais eu mesma!

Então eu descubro que eu sou tanta coisa. E que tenho tantas opiniões, quanto possibilidades de mudá-las. Convença-me. Mostre-me a beleza de viver o que tu vives, os prazeres de sentir o que sentes.

Estou tão aberta quanto o vento.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FAZ-ME RIR!

"Faz-me rir, homem!
Pensavas que fosse limpar tuas fezes
Tal como fizera tua amada mãe

Jogas
Esse teu jogo sujo
E espera atenção?

Minha vida
Simplesmente,
Acontece
Independente de ti

Teu abandono
Não ameaça meu desejo

Engana-te
Quando pensas que me usa
Pois és TU que tens
O que me falta

Imaginou
Eu
Desesperada
Ao anunciares tua partida?

Porém,
Uma dose de ti
É suficiente
Pra te esquecer”

Z. Müller

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Cega-me os olhos
Sol
E, solenemente
Vais embora

Acaricia meu corpo
Chuva
Com teu choro
Desesperado

Posso te ouvir
Trovão
Brigando
Sozinho


O tempo passa
E nós
Correndo
À revelia

Para onde vamos
Não sabemos
Que de forte
Só temos o desejo


No fim do dia


Caçoa de nós
O vento
Soprando
Lento"

Z. Müller

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ao meu pai:

“Reconheço-me em ti
Não só por traços físicos

Há uma marca
Difícil de não se fazer existir

49 e 24 somam-se
E transformam duas vidas, em uma

Farpas e abraços
Brigas e alento

Responsável sou
Por te tornares homem

Responsável és
Por eu ter tido uma existência feliz

Tuas palavras entram como flechas
E já não posso arrancá-las do meu peito

Teus sonhos e meus sonhos
Misturam-se

O invisível é o que nos torna
Pai e filha
E aquilo que nos ensina o que é o amor.”



Z. Müller

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Gente vai Contando:

"Conta-se o tempo
Em horas
Em anos
Em lágrimas
Dores
E dólares


Conta-se uma mentira
Uma verdade
Um exagero
Uma piada


Conta-se
Com o salário no fim do mês
Com o amor que há de vir
Que tenham piedade de nós


Conta-se


E é de tanto contar
Que a vida passa

E só é realmente viviva
Se contada for."


Z. Müller

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CERVEJINHA

"Ah!
Me disseram que a cerveja faz mal

Logo ela,
Tão amarelinha.
Com aquela espuma branca

Geladinha

Descendo pela minha garganta
Concedendo-me um pouco de refresco e alegria

Que mal poderias fazer tu, cerveja?

Que vens só para nos acompanhar

Vens como a lua
Como o sol
Com os amigos!


Oh!
Lá vens tu, chegando
Se equilibrando na bandeja do garçon
Depois, deslizando no meu copo
E finalmente, se misturando a mim


Ah, cervejinha...
Que mal podes tu fazer?"


Z. Müller

VOLTAREMOS!

Passo por um momento de "falta de vontade de compartilhar e dividir" meus sentimentos e percepções.

Acho que vai durar pouco, uma vez que as náuseas estão começando, o que significa que em breve irei regorgitar o que tenho guardado...

sábado, 7 de novembro de 2009

07/11/09 ...


Meu dia começou bem. À meia noite eu ainda tagarelava no Café da Lu com alguns amigos. Entre eles uma amiga em especial que já não via há pelo menos 1 mês (maldita prova da OAB!!). Depois, teve uma ligação e daí sim meus sonhos foram bons. Acordei cedo pra ir para a aula. No caminho, um chão de flores (este que está na foto). Pensei: que manhã linda! Não chovia, mas o céu estava nublado...

Na aula, falamos sobre cargos, salários, espíritos, religião e, claro, Freud...

No intervalo do almoço, alguém teve a idéia de ir até a Feira do Livro. Chovia torrencialmente. Éramos 3 mulheres e meio guarda-chuva. Mas lá fomos nós... praticamente nadando, conseguimos encontrar os livros procurados e até reencontrar antigas amizades.

Na volta para a aula, mais chuva! Era chuva por todos os lados, nem o guarda-chuva extra grande adquirido pela minha amiga no meio do caminho foi suficiente.

A aula da tarde seguiu e nós - molhadas e com os pés descalços - seguimos as conversas paralelas sobre espiritismo (descobri que não se trata de religião, mas uma forma de conhecimento).


Até agora o dia está valendo a pena... se acontecer alguma coisa interessante até amanha prometo postar... mas só se for uma coisa realmente boa!

Não quero estragar a história de um dia feliz.


...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sobre a Leitura....


Livro


"Tropeçavas nos astros desastrada

Quase não tínhamos livros em casa

E a cidade não tinha livraria

Mas os livros que em nossa vida entraram

São como a radiação de um corpo negro

Apontando pra expansão do Universo

Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dúvida, sobretudo o verso)

É o que pode lançar mundos no mundo . . . "


(Caetano Veloso, 2004, p. 49).



A leitura pode ir muito além de um processamento de informações. O encontro com o livro pode ser uma viajem sem volta, ou uma daquelas viajens em que na volta simplesmente já não somos os mesmos.

Pode ser perigoso, encorajador, paralisante. Talvez não faça sentido na hora, e depois de algum tempo emerja em nós como uma descoberta.


Penso que a leitura é um ato de dar passagem, de encontrar com personagens que confrontam nossa maneira de pensar e ver o mundo. Também nos faz sentir como se fosse nossa a dor do outro ou a felicidade do outro.

Para ler é necessário estar aberto.


É preciso ter tempo, alguém diria, e eu respondo que sim, é preciso ter tempo... E para encontrar esse tempo é necessário ter vivido a beleza da leitura. Aí a gente arruma tempo. Como aquele moço que lê de pé, no metrô lotado, às 18h.


Se você gosta de ler, se algum dia leu uma poesia, por exemplo, que fez sentido pra ti, continue! Não deixe essa experiência se perder. Peça à um amigo que já tomou gosto pela leitura algumas indicações, entre numa livraria como quem não quer nada e pergunte.


O ato da leitura precisa de um início, que se bem aproveitado não terá fim...




terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sobre Ti


“Sobre ti,
Não sei mais falar no presente

O passado,
Deste sim tenho lembranças:

Cambaleavas,
Feito quem cai de pára-quedas

No corpo,
Trazias algumas marcas

No peito,
Saudade e solidão



Andavas cercado de amizades
E contavas mil histórias

Foi assim,
Simples assim, que eu me rendi

Tuas mãos,
Seguraram-me com força

Como se já soubesses
Da facilidade com que costumo alçar vôo



Daí éramos dois
Espalhando alegria por todo o canto

Trocamos amigos
E farpas

Tua loucura,
Atrai e repele

No fundo,
Encontrei o mais amargo de mim em ti

Então não pude suportar
Ver-me assim tão de perto!”


Z. Müller

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Procuro amigos como quem cata conchas"


"Procuro amigos como quem cata conchas,entre praias, areias e pedras escorregadias.Não tenho pressa. Escolho. Pulo as ondas.Deixo o tempo me entreter em suas manias.Quando encontro, ponho logo na coleção,aquele lugar reservado desde sempre. Alguns dão trabalho, peças exigentes,outros acomodam-se dóceis ao coração. O mar as vezes me traz algas, guardo-as também. Não sou devoto das formas convencionais. No mais, não sou fiscal de conchas.Que mal tem se não pergunto nem exijo credenciais?Arrisco. Meto a mão. Danem-se os caranguejos." (R Rosa).

Se você já catou conchas, deve entender o que o texto àcima fala. A arte de "deixar vir" os amigos. De se deixar encontrar pela concha que o mar traz.
Para mim, fazer amigos é um ato de bondade, pois a amizade é tão simples que chega a dar medo do quão fácil é a gente ser bom.
Eu costumo trazer um potencial amigo para perto de mim, saber olhar suas qualidades e aprender a lidar com seus defeitos.
As conchas que encontrei no caminho são muito diferentes umas das outras, trazem consigo histórias e medos distintos. Cada uma me exige uma certa maneira de dizer as coisas, de tocar... o que não me impede de ser eu mesma.

Amizade verdadeira é um ato de confiança e paciência. É poder deixar-se tocar pelo outro, inclusive por seus defeitos e mesmo assim continuar ali. Por mais que o tempo passe, por mais que os interesses mudem.

Os amigos são nossas escolhas. Por isso pode ser tão pesado ou tão leve carregá-los conosco.

Um grande abraço àqueles que se encontraram no texto!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

“Cada palavra que da tua boca sai
Fala de um medo mortal

Tens só teus vinte e poucos
E já faz tantos planos para a dor

Se pudesse te dizer alguma coisa
Diria que não te preocupes

Não te assuste com a tristeza do fato:
O amor pode ser mesmo insalubre



Ao me veres sorrir
Não podes imaginar o quanto chorei

Mas as lágrimas de dor são como um banho
Que limpa nossa alma



Tens razão, sou dotada de alma
E te digo que só não tem uma quem nunca amou

O abrigo que desejas só encontrarás no retorno ao ventre
E já estás demasiado crescido

Minha agonia e teu receio
Falam línguas diferentes

Se pudesse te pedir alguma coisa
Diria sem meias palavras:

Não tenhas pressa em andar devagar
Tampouco deixes de caminhar.”

Z. Müller

domingo, 25 de outubro de 2009

...

"Da origem do teu nome
Brilhante
Amas a Lua tal como o Sol
O mar e as estrelas

Da luminosidade vem tua essência
Irradiando o que de belo existe na natureza
E das forças que vibram dela
Tiras a tua

Teu semblante, sempre distante
Revela um corpo que vibra
Na tua luta diária
Travas uma batalha infinita

Corre, pára!
Tal como a chuva que vem e cessa
Esperando uma trégua do Sol
Para fazer-se cair

Mistura-se em meio às cores
Arco-íris
Multiplica-se, tal como as flores
E esse mato que não cessa de nascer

Assim tu és
Misturado entre o cinza e o colorido
Iluminas."

Z. Müller

terça-feira, 20 de outubro de 2009

“uma estranheza toma conta do meu corpo

ele não é mais o mesmo
e minhas mãos estão frágeis demais para segurar

de súbito me invade um grito
que atravessa meus ouvidos e alma

os restos de memória não me são suficientes
preciso de neo-intensidades

meus sonhos são cheios e confusos
e eu desperto com meu próprio chorar

ando com uma pressa desesperada
buscando sei lá o que

disseram que vou encontrar
posto que todos tem uma razão de viver

a despeito disso eu cuspo no meu destino
sem medo de retaliações

minha face toca ao vento
que me leva pra um lugar distante

quando há chuva suficiente eu me deito
esperando que minha pele murche

então me confundo com a terra
e já não existo mais”

Z. Müller

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Das Mentiras

"Falar a verdade é também uma forma de tentar esquecer como algumas mentiras já nos fizeram bem." Z. Müller

Escrevi essa frase pra um amigo a qual uma mentira havia sido revelada e só depois me dei conta do que ela representa.
Você já brigou com alguém, e no momento de raiva falou tudo aquilo que sempre tentou negar, esconder?
Era justamente essa mentira que te fazia feliz, que te dava prazer, mas agora já não precisas mais dela.

A mentira que tu mesmo criastes vem à tona num ato desesperado que só pode ser sentido dessa forma quando se diz uma verdade. Bruta. Crua.

Quando a verdade toma lugar, é porque já não há o que ser escondido, negado. E isso está além do bem ou do mal.

Há mentiras que duram uma vida inteira, que ultrapassam gerações. Pensemos se há mentira maior do que aquela que ouvíamos quando éramos crianças e ecoa em nossa consciência para todo sempre de que "não se pode mentir", ou que "mentir é feio"? A própria boca que nos diz isso nos fala com um cinismo que não tarda para ser reconhecido.

Mentir pode ser um sopro de felicidade. Uma tentativa de criar uma outra realidade, menos verdadeira e dura do que a nossa.

Neste momento as mentiras reveladas brindam suas verdades e lágrimas e pensam como era bom o embebedar-se com mais suavidade.

Z. Müller

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ME PERDOE

Me perdoe
Por fazer tanto silêncio dos meus prantos
E falar tão alto da minha felicidade

Me perdoe
Por sair correndo
E não pensar no rastro de poeira que fica

Me perdoe
Por cuidar tanto dos que amo
E ser tão promíscua com meus afetos

Me perdoe
Por saber que existe fome
E dormir tranqüila na minha cama de molas

Me perdoe
Por sentir vontade voar
E continuar andando de carro

Me perdoe
Por ser um pedaço de pele
Que carrega uma alma

Me perdoe
Por gostar tanto de viver
E ter que morrer um dia

Me perdoe!

domingo, 4 de outubro de 2009

PENSEMOS:

Do que eles tem medo?


Pode ser de altura.
De gordura saturada.

Talvez seja medo de cair no buraco.

Ou será medo da verdade?

Medo.

Da sutileza
Da beleza
Da responsabilidade, quem sabe?

Da prisão?
Do amor?


Pobrezinhos.

domingo, 27 de setembro de 2009

Por um pouco de cor:

"As paredes estão brancas
Alguém deseja pintá-las?

Eu suplico:
Salve-as com alguma cor!

Pode até ser em tons escuros
Com um pouco de maldade

Essa servidão ao branco é o que as aprisiona
Que tristeza, quanto vazio...

Do meu gosto seriam em tons vermelhos
Como um rastro de paixão

Depois desdobrariam para o verde
Da tranqüilidade
Da liberdade

Eu suplico:
Alguém jogue qualquer tipo de tinta nas paredes
Que acabe com essa monotonia do branco!

Se as paredes brancas falassem
Com certeza gritariam como eu grito por elas:

Um pouco de cor!
Um pouco de amor!"


.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cidades

"... o povo está escondido... mas a pobreza se insinua pelas frestas, invade terrenos, constrói favelas. As cidades modernas são controláveis como uma penela de pressão..." (MIRANDA, 1994).

Na tentativa de pensar sobre os espaços públicos das nossa cidades, tem que se levar em conta o processo de separação entre o público x privado. O lugar seguro dos nossos lares e o perigo constante do que podemos encontrar pelas ruas, nos chamados espaços urbanos.

Em São Leopoldo, uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, mal se sabe onde está toda essa gente. Mas elas estão por aí... é só nos distanciarmos um ou dois quilômetros do centro da cidade que vamos encontrar a tão amedrontadora periferia!

Enquanto isso, o centro da cidade se fecha. Os condomínios aumentam em número e em atrativos internos. Verdadeiras cidades dentro da cidade.
Mas ainda precisa-se da periferia: para limpar os jardins, produzir os bens de consumo, vender as drogas e, claro, ser a personificação dos problemas (da saúde, da escola, da segurança).

Não há espaço público seguro (?) é o que eu escuto falar.

Mas e daí? Ninguém precisa se preocupar com o espaço público tendo seu carro, condomínio, shoppings, teatros, restaurantes. A preocupação só bate à porta para reclamar do menino que pede dinheiro no sinal ou quando o assalto acontece... daí os esquecidos são lembrados.
Sim, tem que haver um culpado! Tem que se controlar aquilo que saiu fora do controle! Mais polícia! Mais grades em torno de nossas casas!

E a panela de pressão continua a cozinhar alguma coisa...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Àquele que se (es) vai


Que falta já posso sentir
Da tua pele
Pêlos
Tua boca
Mãos
Pernas
E tudo mais

Por que tinhas que partir?
Acho graça no meu drama

Chego a ter vontade de rir!

Como pode alguém sentir a falta de um pedaço?
Um corpo?

Já te vais
Vais te juntar à outros cheiros e peles

Ah, sim!
Vais trabalhar!


É que às vezes me esqueço que és além de um corpo.

Que tua saúde transborda em outros lugares
Tua vitalidade é tua forma de ser.



Então seja!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Eu mesma:

Às vezes eu me canso de mim mesma. Queria até mesmo ter outra cor de pele, outro tom de voz.
Quem sabe me dizer como seria ser mais baixa? Ou mais alta?
Talvez até arriscasse ter uns quilos a mais. Só pra não enjoar tanto de mim mesma.

Teria um andar diferente, um jeito de me comunicar inédito! Provavelmente sem sorrisos, talvez com mais leveza.

Se eu pudesse ser o que eu não sou, nem sei o que seria. Gostaria de ser tantas coisas.

Acho que começaria sendo uma bailarina.
Ou talvez uma mãe de família, só para experimentar o cheiro que fica da mistura da comida feita por mim, junto com trabalhos domésticos, crianças e marido.

Queria ser, quem sabe, até um homem. Sem seios, sem cabelos longos, sem menstruação, sem a desculpa da TPM.


Depois seria uma velha, pra ver como que a gente fica depois que toda a juventude se esvai. Quando sobram rugas e sabedoria.


É... estou cansada de ser eu mesma.

Acho que no meu desespero de ser outra, toparia até ser uma política, pra poder sentir o gosto da mentira e da covardia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Aos Cidadãos do Mundo:

Conversava eu com um novo amigo, e lá pelas tantas surge o assunto: “onde você costuma ir? Que lugares frequenta?”
Me dei conta que freqüento lugares extremamente diferentes, o que meu amigo denomina “cidadão do mundo”.

O cidadão do mundo tem como característica circular por diferentes lugares, se adaptando e aproveitando as coisas boas que cada espaço tem para oferecer.

Ah, como é bom ser cidadão do mundo!

A gente conhece tanta gente interessante, tantos pontos de vista. Começa a compreender por que algumas coisas fazem o maior sentido e são indispensáveis para uns enquanto que outros sequer sabem que isso existe. Chamo esses últimos de “cidadãos de guetos”, ensimesmados e, consequentemente, contam com menos alternativas para se sentirem acolhidos pertencentes à esse mundo.

Há tantos lugares pra conhecer, tantas formas de se divertir que não tem como gostar só de uma! Brindemos aos Cidadãos do Mundo e aos encontros alegres!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Suicídios na France Telecom

Hoje vim falar sobre um assunto muito sério. Um assunto que diz respeito à todos nós, de alguma maneira, seja como trabalhadores, seja como cidadãos responsáveis e críticos.
Há alguns dias atrás estourou a notícia da onda de suicídios numa empresa de telecomunicações da França. O último dos suicídios foi registrado na sexta-feira passada (11/09), quando uma mulher de 32 anos se jogou pela janela de seu escritório. Já foram 23 desde metade de 2008.
A France Telecom era uma empresa estatal até três anos atrás e hoje o Estado controla apenas 26,7% do capital.
Ocorreram muitas trocas de funções, transferências para outras cidades e (obviamente) um grande enxugamento de funcionários. Mais de 20 mil pessoas foram demitidas!
Sabe-se que o processo de reestruturação produtiva favorece o isolamento e a insegurança em relação ao futuro, dificulta a criação de defesas coletivas e de proteção, predominando o uso de defesas individuais de adaptação, onda “cada um se vira como pode”. Assim, o sofrimento vivenciado pelo trabalhador, que certamente diz respeito à questões sócio-econômicas bem mais amplas, passa a ser individualizado.
Obviamente que nem todas as pessoas vão sentir o impacto das pressões por metas e das demissões da mesma forma, mas agora negar que isso existe é um absurdo!
Precisamos repensar em como estamos trabalhando, onde queremos chegar com isso e porque nos calamos diante daquilo que está escancarado...
A France Telecom prometeu contratar 100 funcionários de recursos humanos para identificar empregados com problemas. Será essa a solução? Não é hora de repensarmos essas questões e criticar quando uma empresa coloca no seu site:

“In the current economic environment, our practice of corporate social responsibility is more than ever at the core of our business strategy.Our priorities can be summarized in three words: include, preserve, care.”

Afirmando que tem uma prática de responsabilidade social como núcleo da estratégia da empresa. “Inclua, preserve e importe-se”, enquanto seus “colaboradores” se matam... que ironia...

Falta de sorte?

Eu duvido.

Aqui temos o adoecimento, representado pelo suicídio, mas que pode se desenvolver de muitas outras formas. Formas que jamais chegarão até a mídia... mas que estão por aí... enriquecendo a indústria farmacêutica que bate recordes de vendas a cada ano de anti-depressivos, anti-ansiolíticos...

domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre um Homem

Chovia ininterruptamente em Porto Alegre. Entro no trem e ao meu lado senta um homem. Mas não era qualquer homem. Ainda estou desconcertada, pois um homem daqueles não havia ainda me chamado a atenção.
Descrevo: ele estava vestido em trajes tipicamente gaúchos. Usava uma boina e um lenço vermelho amarrado no pescoço. Difícil descrever o que eu senti durante todo o caminho até São Leopoldo. Era uma curiosidade, uma vontade de tocar aquele homem. Sentou ao meu lado. De perfil era especialmente bonito.
Tinha a barba espessa, podia escutála quando ele coçava o rosto. Seu nariz era razoavelmente bem feito, mas o que me encantou foram os cílios: longos... e as pintinhas que ele tinha por todo o rosto. Pude reparar em uma que ficava na entrada da orelha. Aproveitei para observar bem, pois assim que o metrô começou a andar ele fechou os olhos. Acho que logo adormeceu, então eu pude observar cada detalhe.
No primeiro momento fiquei com medo de que ele acordasse e notasse que eu o observava. Imaginei então se ele estaria de botas e bombacha, então pus o corpo um pouco pra frente para observar. Sim ele estava. Também carregava uma mochila no colo, que não combinava com a roupa. Queria saber o que havia dentro dela. O que estaria carregando aquele homem?
Tentei sentir que cheiro que ele tinha, me aproximei um pouco mais. Meu coração batia. Estava descobrindo aquele homem sem pedir sua permissão. Não demorou para que eu me perguntasse: Estaria ele mesmo dormindo? Desejei que ele acordasse, estava decidida a perguntar seu nome, saber de onde ele vem. Queria saber por que entrou naquele vagão? Para me desconcertar? Já estava irritada com aquela situação.
Notei que a mulher que estava sentada na frente já havia percebido tudo o que eu estava fazendo. Mas eu precisava encostar nele. Coloquei meu corpo mais para o lado e o casaco dele encostou em mim, mas era pouco, eu queria ficar mais perto. Agora tinha certeza de que ele dormia, pois sua cabeça eventualmente pendia pro lado. Estava torcendo que ela encostasse no meu ombro. ..
Já estávamos em Esteio e eu não conseguia olhar para outra coisa, estava hipnotizada. Pensei em acordá-lo e avisar que em pouco tempo estaríamos em São Leopoldo. Começaria uma conversa e o convidaria para tomar um café. O plano era perfeito.
Eis que subtamente ele abre os olhos, justo quando eu observava seus lábios!
Ele percebeu. Estava perdida.
Ele me olha e pergunta em que estação estávamos. Quase desfaleci, me trapalhei para dar a resposta. Ele agradeceu com um sorriso e desceu na próxima estação.

Ainda bem que eu não o conheci mais, porque à noite pude sonhar com ele.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Boba e o Moço Assaltador

Inspirada pela leitura do texto "Das Vantagens de ser Bobo", da Clarice Lispector, resolvi escrever sobre isso:
Ano passado, enquanto eu caminhava bobamente, numa tarde de lindo Sol, com meu mp3 no ouvido e a bolsa pendurada no braço, há duas quadras da minha casa eu fui assaltada.
O assaltante passou de bicicleta, bem rente à mim e quando foi puxar minha bolsa se atrapalhou e quase caiu da bicicleta. A boba, que nunca tinha sido assaltada antes, ficou sem reação e quase pediu desculpas por ter atrapalhado o moço assaltador.
O máximo que a boba fez, foi gritar um palavrão enquanto o moço assaltador ia tranquilamente com a sua (não sei se era bem sua) bicicleta e a bolsa pendurada no ombro.
Os vizinhos se alvorossaram, houve até perseguição para pegar o moço assaltador, mas como de bobo ele não tem nada, conseguiu escapar. Óbviamente.
Naquela semana, como eu fui acusada! Nossa! Como me chamaram de boba, imprudente, desligada, desprevinida, boba denovo e por aí vai...
Como que eu não saí correndo? Como eu não gritei ou não dei um tapa no moço assaltador que tinha quase a metade do meu peso?
Enfim, o fato é que a boba, continua a caminhar tranquilamente pelas ruas. Não teve nenhum tipo de trauma. Continua admirando o Sol e escutando seu mp3 (essa parte é mentira, pois ainda não comprei um novo, mas quem ficar com pena da moça boba pode dar um pra ela). Mas saiba que ela corre o risco de ser novamente assaltada por outro moço assaltador!

Pois é muito boba...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Ao meu filho

Sim meu filho, sei que ainda nem existes, mas eu preciso te contar! Sim, eu preciso te alertar sobre as coisas que vais encontrar no mundo. Já te aviso que nem sempre são coisas bonitas. Aqui no Brasil por exemplo, país onde vais viver, tem muita gente que não tem uma casa pra morar, como tu vais ter quando nascer. Tem gente que come o resto da comida que tu vais jogar no lixo. Tem também gente que tu vais eleger para te defender e lutar pela tua qualidade de vida, mas ele vai desviar o dinheiro que vem do imposto que tu vais pagar e comprar uma linda casa, e um lindo barco, e lindas jóias para sua amante (o que é amante? ah, depois eu te explico, quando tu crescer). Aqui a gente também tem praças e parques, mas tu vais ver como eles são poucos e como muitas vezes eles estão cercados de grades. Vais ver que temos grandes empresas, que fabricam grandes produtos, e que as pessoas que lá trabalham nem sempre podem comprá-los. Vais ver que temos um Rio bem grande que passa pela nossa cidade, um Rio cheio de lixo, lixo este que tu também vais produzir. Vais conhecer o que é violência, o que é a droga, o que é sofrimento. Te assustei meu filho? Mas não te assuste! Pois também vais conhecer a alegria do carnaval e do futebol! E mesmo se tu não pegares gosto pelo samba e pela bola, eu não quero que tu desistas de nascer, pois esse mundo precisa de você. Sim, ele precisa. Tu vais encontrar muita gente que não desiste dessa vida. Vais entrar no metrô logo cedo e vais ver muitas pessoas indo trabalhar honestamente. Vais fazer amizades e encontrar pessoas pelas quais vais te apaixonar. Provavelmente vais te indignar toda vez que ver um homem pedindo esmolas. Daí nas próximas eleições vais votar com mais consciência, ou vais, no teu dia-a-dia, contribuir para que o teu mundo tenha menos violência, menos pobreza, menos lixo....

Homenagem aos Faladores:

"Hoje vim Falar daquela gente
Que já não sabe o que Fala

Mas insiste

E vem Falar de mim

Justo eu
Que mesmo na minha Falação
Só Falo o que sei
Do que não sei abro mão

Aquela gente tem a Fala feia
Feito Fala de Faladeira
Debruçada no portão

Eu quando Falo
Falo alto e em bom tom
Pois tudo o que penso e Falo
Não é um Falatório em vão."

Z. Müller

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Iniciando...

Começo hoje, numa quarta-feira cheia de chuva a escrever um blog! O fato é que semana passada encontrei, no meio daquelas faxinas que a gente faz no armário, um diário. Um diário de 10 anos atrás! Eu escrevi durante todos os dias do ano de 2.000 (ano que completei 15 anos). Achei o máximo! percebi algumas coisas que com certeza contribuiram para eu escolher a profissão que tenho hoje (sim, sou psicóloga, embora não seja sobre psicologia que eu quero falar nesse espaço, pelo menos vou tentar), também descobri como foi linda minha adolescencia, como foi uma adolescência MESMO! eu matava aula, me apaixonava, odiava uma professora, amava um professor, brigava com meus pais, praticava esporte, experimentava coisas... que delícia relembrar isso. Enquanto eu lia, podia sentir a dor de ser ignorada pelo meu grande amor, podia sentir o cheiro do brigadeiro que eu e as "gurias" fazíamos, podia sentir a raiva que eu sentia do meu pai quando ele queria mandar em mim, enfim!
Por isso começo meu blog falando sobre o ato de escrever, seja por diversão, por desabafo, por falta de ter com quem falar, enfim! Escrever é se comunicar, é se comprometer com alguma questão, pensar nela e fazer outras pessoas (os leitores) pensarem.
Dez anos depois, me colocarei novamente a escrever, talvez não tão leve e despida como na minha primeira experiência... desculpem, pois seria uma delícia!
Termino com uma frase inspiradora, de uma escritora admirável:
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."
Clarice Lispector